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A Antologia Poética de Vinicius de Moraes

O tempo do amor é irrecuperável. Quando o amor é maior que tudo, a poesia faz sentido outra vez”

Publicado em 1954 e reeditado em 1960 pela editora do autor e de seus amigos de longa data, Fernando Sabino e Rubem Braga, a Antologia Poética traz consigo um percurso de 21 anos de publicações nada passageiras de Vinicius de Moraes.

O livro é divido em duas duas partes, justamente por conter uma estrutura singular e correspondente a momentos distintos. A primeira é coberta de emoções intensas e transborda aquilo que aqui chamaremos de uma alma inquieta, que ora explode e ora confunde. Salvas as palavras de Vinicius dedicadas à apresentação do livro, a primeira parte é “transcendental, frequentemente mística e resultante de uma fase cristã”, indicando tons sensíveis, sombrios e ainda sim amáveis, em sua mais bruta complexidade. Assim se estabelece a essência das múltiplas faces do poetinha.

Um impulso da imaginação, como se dançasse com cada estrofe, envolvido em um manto de devaneios intermináveis. Na aura fantástica, é possível se perder em cenários descritos nos mínimos detalhes. A poesia de Vinicius nessa primeira parte do livro, tem o poder de te fazer viajar para longe e ao mesmo tempo te trazer mais para perto de si. Muito além do óbvio, sugere o lúdico que habita em cada um.

Já a segunda parte, se opõe ao transcendentalismo anterior. Com poesias pertencentes a uma outra obra intitulada como “Novos Poemas”, representa uma nova fase, mais madura, com experiências e ideias evoluídas, mas sem perder a essência intensa do autor, que aponta a segunda parte no prelúdio como “uma aproximação do mundo material, com difícil mas consistente repulsa ao idealismo dos primeiros anos”.
A melancolia presente é a chave mestra para as profundezas mais sensíveis de Vinicius. Evoca a paixão no seu âmago: bruta, sedutora, inclinada ao torpor, ardente, platônica e disposta incansavelmente ao alcance das mãos. Altas doses de sensibilidade nas palavras e no toque. Como o ventre de uma mulher, tão presente em suas estrofes.

A fama de Vinicius de ser um idealista e um eterno apaixonado, discorreu não só por suas paixões ferozes, voluptuosas e transitórias — o autor se casou 9 vezes em vida — mas também pelas expressões tão diversas presentes em sua escrita.

Vinicius remonta espetáculos impecáveis, como se quisesse dividir não só suas memórias — ainda que inventadas — mas também um pedaço de si. Para que todos que o leem possam viver seus versos também. Como se todos pudéssemos também o ser. A segunda parte é atemporal, significativa, apaixonante e genuína como a própria vida. Vem pronta para se fazer viva em todos nós. Sem ela o curso da obra não teria sentido.

Vinícius de Moraes em Antologia Poética, desperta a simplicidade das combinações como uma canção que se faz livre de regras e têm como único objetivo incitar cada instante. As figuras se alteram, os estados se convertem, mas a essência da obra é o toque de um Vinicius que consegue transmitir um só segundo em uma poesia. É como beber de uma fonte e encontrar o elixir da perenidade. Cada experiência é única e carrega sua preciosidade. O jogo de morte e vida acontece todos os dias e com a sua poesia é ainda maior e melhor.

Nada no diminutivo faz mal. Com suas estrofes fiéis a si mesmas, o poetinha do povo, do mundo e da imensidão, ainda pode viver em todos nós.
A Antologia Poética de Vinicius de Moraes
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